terça-feira, 29 de julho de 2025

Bala Perdida com Destino Certo


                     Bala Perdida com Destino Certo

O mano subiu o morro todo lombrado.
Na mão direita, um baseado.
Despreocupado, calça larga, boné de aba reta.
Nada na cintura, nada nos bolsos, nem na mochila — só o beck, pra uso próprio.
No ouvido, um fone mandando rap nacional direto pra mente.

Ele tava na dele, viajando na brisa, quando a sirene cortou o ar.
Nem teve tempo de entender.
— Mãos pro alto! — gritou a polícia.
Ele mal reagiu.
Mas não quiseram saber.
Atiraram.
Frio.
Bala na cabeça.

Caiu no chão da quebrada e ali ficou.
Não resistiu. Morreu.

Pra cobrir a covardia, os homens da farda colocaram uma arma na mão dele.
Enfiaram um monte de droga na mochila.
Fabricaram um traficante em segundos.
Um cara que só fumava pra esquecer das dores virou estatística do sistema.

No rádio saiu a notícia:
"Polícia prende traficante perigoso. Houve troca de tiros. O suspeito foi baleado e morreu a caminho do hospital."

Mentira.

A verdade ficou estendida no chão, junto do corpo.
Morreu ali, calada, como morrem muitos no morro: com um baseado na mão e uma farsa no boletim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário